CTI Humanizado é destaque no Hospital Júlia Kubitscheck
Permitir visitas de crianças, comemorar aniversários de pacientes e datas especiais, ter horário flexível de visitas, manter música e oferecer acompanhamento psicológico aos pacientes e a seus familiares e, principalmente, dar carinho. Práticas como essas estão trazendo bons resultados na recuperação de pacientes no Centro de Terapia Intensiva (CTI) do Hospital Júlia Kubitscheck, da Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (Fhemig). As práticas alternativas incluem também a presença de contadoras de história e permanência de acompanhantes.
Ao fugir dos moldes tradicionais, a partir de mudanças no ambiente físico e nas atitudes comportamentais que estão sendo realizadas há cerca de três anos, o hospital transformou o CTI em um ambiente menos estressante e acolhedor.
As iniciativas humanizam o tratamento, como explica a psicóloga Márcia Viegas. "Humanizar o CTI é desmistificá-lo. É tentar, de alguma forma, mostra que CTI é lugar de vida, cuidado e acolhimento. Em nosso CTI, tentamos romper com a visão de que este é um lugar de pacientes graves a espera da morte, onde só podemos seguir prescrições médicas. Tentamos oferecer, no mínimo, um sentido para que o paciente continue ali, sendo invadido por tubos e sondas", afirma.
Vínculo
O Centro de Terapia Intensiva do HJK conta, atualmente, com 21 leitos, com ocupação superior a 90%. A unidade é clínica, recebe pacientes com complicações infecciosas e outras, pós-cirúrgicos e da maternidade de alto risco. A demanda não se restringe aos pacientes do hospital, mas atende também à Central de Leitos (de regulação municipal) e à Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH). A equipe é multidisciplinar, com fisioterapeuta, fonoaudiólogo, psicóloga, médicos, enfermeiros e técnicos.
O tratamento humanizado faz com que pacientes mantenham vínculo com os profissionais mesmo depois que receberam alta. "Não tem explicação o cuidado intenso, carinhoso que eu recebi enquanto estive no CTI", conta a estudante Lílian Cunha Pereira, 27 anos, que ficou internada por causa de complicações de uma pneumonia. Lílian faz o acompanhamento de seu caso, todos os meses, no hospital e sempre visita a equipe do CTI, que considera "amigos".
E este carinho pode causar dependência. É o caso do motorista Marcos Antônio dos Reis, 30 anos, que piorava toda vez que saía do CTI. "Eu ficava inseguro, era emocional mesmo". Marcos teve uma doença rara, que comprometia o sistema imunológico. "Ali, não somos tratados somente como pacientes. Foram uma segunda família para mim".
Esdras Carlos Eller, 53 anos, pastor presbiteriano concorda com Marcos Antônio. "A forma como fui acolhido me impressionou. A terapia da simpatia, do carinho, ajuda na recuperação", afirma. Alguns ex-pacientes visitam sempre o CTI do hospital, para trocar suas experiências com aqueles que estão internados.
Diretrizes
Segundo estatísticas, hoje cerca de 80% dos pacientes que se internam em um CTI se recuperam e recebem alta, diferente do que preconiza a opinião pública. "Pacientes e familiares chegam angustiados com a possibilidade de morrer. Oferecer apoio e orientação, dando-lhes um tratamento mais humano, ameniza o sofrimento e o impacto provocado pelo adoecimento e internação no CTI", ressalta a psicóloga.
Com o tratamento mais acolhedor, a Fhemig atende as diretrizes estabelecidas pela Política Nacional de Humanização. "Os princípios da humanização reverteram a relação entre o usuário e o prestador de serviço. Agora é uma relação entre dois sujeitos. Não existe mais a figura do paciente passivo", explica o gerente da Unidade de Pacientes Críticos, Adão Ferreira de Morais.
Informações compartilhadas
De acordo com o gerente, a equipe do CTI resgatou a cidadania de cada paciente, identificando-os pelos nomes, compartilhando informações e decisões com eles e com familiares. Na verdade, hoje, no CTI do Júlia Kubitschek não existe um horário de visitas, apenas um horário para passar o boletim médico. Acompanhantes e visitantes também são avaliados psicologicamente.
No hospital, todas as informações sobre a doença, riscos, tratamento, medicação, cirurgias, entre outras, são transmitidas aos familiares em um ambiente reservado e não à beira do leito.
Segundo a psicóloga Márcia Viegas, um CTI tem a particularidade de ter muitas máquinas, procedimentos mecânicos. "Mas a gente percebe que, mesmo quando todas as parafernálias tecnológicas se mostram insuficientes para reverter o quadro clinico de um paciente, nós, profissionais, ainda temos muito a fazer. Dessa forma, até mesmo quando os pacientes falecem, a família se sente acolhida, pois sabe que foi feito o melhor e o possível. Não nos cabe impedir a morte e, independente do diagnóstico e prognóstico do paciente, é nosso dever proporcionar um tratamento digno", afirma.
Também concordo com a matéria, a humanização do CTI é super importante para os pacientes, familiares e para os resultados clínicos
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