Saúde
C.T.I HUMANIZADO
Autor: marcia costa
Trata-se de um projeto em construção criado pela psicóloga Márcia Viegas e pelo médico Dr Adão Morais para amenizar o sofrimento de centenas de pacientes(e familiares) internados em um C.T.I. É uma nova cultura de atendimento que se deu através de simples mudanças no ambiente físico e principalmente nas atitudes comportamentais
É um local totalmente diferenciado, que rompe com as barreiras tradicionais.O Hospital Júlia Kubitschek localiza-se no Bairro Araguaia, Distrito Sanitário do Barreiro em Belo Horizonte. Atende a uma população estimada de 800mil pessoas provenientes do Barreiro, demais regiões de Belo Horizonte, municípios vizinhos e de outras unidades da Federação.
A Unidade de Pacientes Críticos conta atualmente com 21 leitos com taxa de ocupação Superior a 90%. O C.T.I onde está sendo realizado o projeto é composto por 13 leitos, sendo os outros oito pertencentes a Unidade Semi-Intensiva.Recebe pacientes internos de todas as alas do hospital e externos (central de leito, transferência)
O C.T.I em questão funcionava conforme modelo esperado tradicionalmente, como uma unidade fechada aos familiares e visitantes onde pacientes eram assistidos durante as 24 horas diárias por diversos profissionais qualificados. Decretava-se automaticamente no momento da admissão o rompimento com a identidade subjetiva, a destituição da liberdade, privacidade e autonomia. Era o momento de desfazer laços afetivos, familiares e sociais. Hábitos e velhos costumes eram identificados como ameaçadores a vida humana. Enfim, muitas eram as proibições que compunham o cenário de normas e rotinas da nossa unidade transformando-a conseqüentemente em um ambiente como já dito de despersonalização do paciente e de alienação do trabalhador em relação ao objetivo do seu cuidado.
No que se refere ao acolhimento à família, nosso espaço para recebê-los era denominado secretaria. Um lugar com instalações inadequadas, configurando-se como um lugar frio, e impessoal, que certamente gerava uma má impressão nos visitantes.
O horário de visita era rígido e generalizado. Todos os visitantes permaneciam pelo mesmo tempo e uma vez no dia. Acompanhante não era permitido. Crianças não podiam entrar devido a risco “teórico” de infecção. O boletim era fornecido exclusivamente pelo médico, à beira do leito ou no corredor desrespeitando o direito á privacidade e sigilo das informações.
Hoje trata-se de um local totalmente diferente. Nossas portas são literalmente abertas e TUDO que faça bem ao paciente é possível acontecer. Não existe em Minas um serviço de Terapia Intensiva que funcione nesses moldes.
O projeto foi reconhecido pela FHEMIG( prêmio melhores práticas), emissoras de tv( globo, tv uni, tv horizonte, puc minas entre outras) rádio, internet e etc.
Enfim, objetivando a humanização do C.T.I, foram realizadas as ações que seguem-se: A) Mudanças nas atitudes comportamentais e B) Mudanças no ambiente físico.
A) MUDANÇAS NAS ATITUDES COMPORTAMENTAIS:
Nem todos os pacientes que estão no C.T.I estão em coma ou impossibilitados de se movimentar, falar ou escutar. E mesmo se estiverem, cabe aos profissionais comprometidos com a humanização da assistência criar possibilidades para que o mesmo mantenha seu elo com a vida e tenham um atendimento digno, independente de seu prognóstico. Diante disso iremos destacar algumas ações realizadas até o momento:
ASSISTÊNCIA INTEGRAL E HUMANIZADA: Para prestar um atendimento de fato humanizado é preciso que a equipe esteja atenta à totalidade do ser. É preciso buscar o auxílio de outras áreas, para que cada um possa a partir de seu conhecimento agir conjuntamente em prol do paciente ou familiar.
Realizar o cuidado assistencial e promovendo uma relação empática, interagindo com nossos pacientes, tratando o ser doente e não a sua doença;
VISITA FLEXIBILIZADA: Esta se difere do conceito de visita ampliada. A intenção vai além de ampliar o horário de visitação no C.T.I , pretendendo-se adequar (individualizar) o horário de visita, tempo de permanência e número de visitantes a questões e demandas pessoais, sociais e emocionais identificadas a partir da avaliação psicológica. Dessa forma a visita pode ocorrer na parte da manhã e/ou tarde e/ou noite; 3 visitantes, mais que 3 ou menos que 3, ou seja que for melhor para paciente e familiares. Os visitantes, portanto poderão ficar minutos, horas e até permanecerem como acompanhantes.
BOLETIM DE CUIDADOS: Transformar o tradicional boletim médico em um boletim de cuidados multidisciplinares onde membros da equipe de diversas áreas conforme o caso relata aos familiares o andamento do respectivo cuidado prestado aos pacientes.
PERMANÊNCIA DO FAMILIAR E ACOMPANHANTE NO C.T.I:Permitir o acompanhante quando tal medida é avaliada como favorável ao quadro clínico e emocional do paciente e possa lhe trazer benefícios para o enfrentamento da situação vivenciada.Outros não ficam continuamente no C.T.I,mas utilizam as instalações da Sala de Visita para permanecerem próximos durante a internação devido a questões pessoais, sociais, emocionais, dificuldades financeiras entre outras.
VISITA DE CRIANÇA: A entrada de criança no CTI é possível após avaliação psicológica e com acompanhamento de um profissional desta área. Não há limites para a idade, o importante é o benefício da visita para ambas as partes, levando-se em consideração os riscos para a saúde física e mental dos envolvidos.
VISITA DE PACIENTES PUÉRPERAS AO BERÇÁRIO: Quando possível e benéfico para ambas as partes possibilitamos o contato de pacientes e RN, preservando o vínculo mãe - bebê.
CONTADORA DE HISTÓRIA: Através da parceria com o Programa Viva Cultura as contadoras de histórias levam essa arte aos pacientes e familiares. As histórias alegram e estimulam nossos pacientes que demonstram a grande satisfação, com gestos, olhares e aplausos quando eles estão intubados ou traqueostomizados e conseqüentemente impossibilitados de se comunicar verbalmente.
COMEMORAÇÃO DE ANIVERSÁRIO E DATAS ESPECIAIS: Muitos são os pacientes que se encontram internados em datas especiais e comemorar tais datas configura-se um momento importante para manter o elo com hábitos, costumes, tornando o ambiente mais humanizado, acolhedor, caloroso e menos impessoal.
APRESENTAÇÃO MUSICAL: Com apresentação de Voz e Violão (funcionário), Orquestra da Polícia Militar e Corais diversos;
ATENDIMENTO E ACOMPANHAMENTO PSICOLÓGICO: Acompanhamento psicológico durante a visita, inclusive em finais de semana. O profissional de psicologia poderá, nesta ocasião, detectar focos maiores de ansiedade nos familiares e orientá-los antes de sua entrada na unidade. Poderá identificar ainda, o membro da família melhor estruturado emocionalmente para receber informações, assumir decisões; constituir-se no elo do serviço com o restante do grupo familiar. Facilitar a comunicação entre a família e a equipe de saúde;
ASSISTÊNCIA EMOCIONAL E SOCIAL AO ÓBITO:
GRUPOS DE APOIO: Terapia de apoio aos familiares que demandarem, em horários que não coincidam com a visita para que eles possam ter a oportunidade de falar sobre o paciente, sobre a doença, suas fantasias, seus medos, objetivando a reorganização do grupo familiar;
Realização de Grupos de Apoio, possibilitando aos familiares compartilharem suas experiências com outras pessoas que estão passando pela mesma situação;
IMPLEMENTAÇÃO DE ACÕES PALIATIVAS: Ações que visam oferecer atenção ativa e integral ao paciente, voltando-se para questões físicas, sociais, emocionais e espirituais mesmo em determinados momentos onde paciente não mais responde aos tratamentos curativos, chegando à limitação dos esforços terapêuticos. Essa prática beneficia não só os pacientes e seus familiares que irão receber um atendimento mais humanitário até o momento da morte, mas também a própria equipe, que deixará de “não ter mais o que fazer”, para “continuar a fazer algo”, minimizando a sensação de impotência e a frustração diante desses pacientes.
MUDANÇAS NO AMBIENTE FÍSICO:
REFORMA DA SALA DE VISITAS: Promovemos uma significativa mudança no espaço físico reservado aos familiares. A velha Secretaria passou a se chamar Sala de Visita Familiar. Agora contamos com 25 cadeiras novas. Temos um bebedouro, uma televisão de 20 polegadas A parede foi pintada, em uma de suas laterais temos uma moldura, cuja tela é a própria parede, onde a artista plástica pintou uma figura abstrata utilizando cores fortes. Temos um mural com mensagem de boas vindas aos familiares e com várias fotos de ex-pacientes. Recebemos ainda um painel, (estilo colcha de retalhos) feito por pacientes da enfermaria durante o atendimento da Terapia Ocupacional contendo várias mensagens de apoio para os familiares.
SALA DE APOIO FAMILIAR. Espaço reservado para a equipe passar diariamente aos familiares a informação adequada sobre o quadro clínico do paciente, estratégias terapêuticas e diagnósticas. Além do conforto é possível garantir o direito ao sigilo das informações, permitindo ainda aos familiares à percepção de continuidade, coerência e constância nas informações. Com essas práticas estamos cada vez mais tentando extinguir a velha conduta de notícia á beira do leito, salvo, quando os pacientes estão conscientes e orientados podendo assim se informar e participar de seu tratamento. Percebe-se que isto proporciona maior segurança e contribui para o fortalecimento do vínculo da família com o serviço.
RECURSOS AUDIOVISUAIS: Sempre que possível permitir o acesso e a distração com algum recurso audiovisual.
PERSONALIZAÇÃO DO ESPAÇO: Seguindo as orientações da CCIH, permitir que alguns visitantes levem fotos com imagens de familiares dos pacientes, cartões, orações, lençóis, cobertores, travesseiros e outros objetos pessoais. O objetivo é personalizar o espaço, diminuindo a sensação da perda de identidade. No caso das fotografias para os pacientes conscientes pode ser um grande estímulo. Em relação aos comatosos eu diria que o estímulo é principalmente para a equipe de saúde, que consegue perceber seu paciente além de um corpo doente.
No limite do possível estamos contribuindo para transformar o C.T.I do Hospital Júlia Kubitschek em um lugar de cuidado e acolhimento. Ter o reconhecimento também da TV Alterosa seria sde suma importância para a continuidade do projeto. Aguardamos o retorno.
Márcia Aparecida Viegas da Costa
Psicóloga Clínica, Especialista em Psicologia Hospitalar.
Psicóloga dos Centros de Tratamento Intensivo do Hospital Júlia Kubitschek
Coordenadora do Projeto de Humanização do C.T.I / H.J.K
marciaviegas@ig.com.br
Adão Ferreira de Morais
Médico, Especialista em Terapia Intensiva de Adultos.
Especialista em Gestão Hospitalar pela Escola de Saúde Pública-MG
Gerente da Unidade de Pacientes Críticos Adultos / H.J.K
http://www.youtube.com/watch?v=ZoPKZFkYMR4